"Como surgiu a ideia de abordar os miúdos de rua?
Foi através das aulas de um professor do Magistério Primário do Funchal - o padre Edgar. Aulas que eram sobretudo questionar, questionar, fazer-nos ver, olhar. Foi a partir daí que começamos a olhar verdadeiramente as crianças."
Os professores mantiveram contacto com as crianças em esplanadas da Cidade do Funchal e no Jardim de Santa Catarina. As crianças eram as protagonistas das conversas e dos encontros informais com os professores e educadores. Escola Aberta, não era somente um nome, reflectia o desejo e o sonho vivido pelos miúdos. Descrevia a escola ideal, livre onde podiam estar à vontade. Aquele era o espaço deles, construído segundo as regras que tinham idealizado para a escola.
Foi um projecto vincado no diálogo de compromisso, de ganho de consciência para a realidade vivida, enfim, de desenvolvimento de uma vontade de transformação e de afirmação de uma consciência de direitos. As situações vividas pelas crianças no seu quotidiano eram discutidas com os Animadores. As frases que escreviam na sua escola, na Escola Aberta, reflectiam a sua realidade, uma realidade discutida entre eles, que também, era dramatizada de forma lúdica e pedagógica, sensibilizando-os para a realidade, e uma busca de soluções transformadoras pela participação das crianças.
O projecto cresceu e envolveu as famílias das crianças, uma aproximação discreta e informal protagonizada nos bairros. A Escola Aberta já não era só das crianças, a comunidade de bairro estava envolvida. Tudo o que acontecia na escola era motivo de aprendizagem permanente, uma aprendizagem que terminou no ano lectivo de 1993/94. Mas, aqueles Animadores foram capazes de gerar nos "meninos da caixinha" uma consciência de direitos como pessoas e de movimento social enquanto colectivo com deveres, direitos e acima de tudo, a capacidade de transformação das realidades vividas provocada pela tomada de consciência.
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