quarta-feira, 27 de janeiro de 2010

(Des)investimento Cultural... Era uma vez o tempo de vacas gordas

O investimento público na cultura continua a padecer de uma política séria, de um programa de desenvolvimento sociocultural com objectivos políticos definidos, um investimento, que a meu ver, passa por um plano de acções concretizáveis e discutidas com os agentes culturais e educativos, e não uma agenda de intenções que nunca passarão de ideias soltas e talvez acabarão num qualquer programa político-partidário.

Face à actual crise socioeconómica que vivemos, uma crise com profundas repercussões no tecido social, que continua a arrastar, quotidianamente, centenas de pessoas para o limiar da pobreza, compreendo e aceito que o fraco ou quase nulo investimento cultural que estamos a assistir de uma forma flagrante e prejudicial para o trabalho que muitas instituições, nomeadamente, as colectividades culturais vinham realizando com os diferentes grupos populacionais, seja uma discriminação positiva para a área das políticas sociais.

Não posso deixar de manifestar sérias reservas quando somos confrontados com um desinvestimento político consciente em matéria de políticas culturais. Esta acção não só é nociva para a acção cultural desenvolvida em sectores de proximidade da vida comunitária, mas também, para as políticas e práticas de Animação Sociocultural no contexto da intervenção local. A Animação Sociocultural também sai profundamente lesada do ponto de vista de projectos e actividades de educação para a cultura, enfim, é um contributo negativo para a pedagogia cultural.

Há que tirar as devidas ilações deste novo panorama económico para a cultura. Apraz-me dizer, que falharam os critérios de apoio aos projectos culturais, falharam as políticas de acção cultural sustentadas nas realidades locais e comprometidas com o território cultural, os órgãos executivos governamentais não tiveram a coragem de seriar o investimento para uma verdadeira política de desenvolvimento e Animação Sociocultural.

quinta-feira, 21 de janeiro de 2010

Regulamentação da carreira do Animador. Um caso ibérico

A regulamentação da carreira do Animador Sociocultural, matéria que tem alimentado debates, reflexões e vários escritos, é um tema central e transversal a um conjunto de preocupações que têm que ser contextualizadas na acção associativa e nas práticas profissionais dos Animadores Socioculturais. É matéria que ultrapassa as fronteiras do território português e da língua de Camões.

Foi com surpresa que tomei conhecimento do Manifiesto por la regulación de la animación sociocultural en el ambito formal y no formal. El TASOC y su Perfil profesional da autoria da RED ESPAÑOLA DE TECNICOS SUPERIORES EN ANIMACION SOCIOCULTURAL (TASOC) Y TECNICOS SUPERIORES EN INTEGRACION SOCIAL (TISOC). Este é um documento que subscrevo por solidariedade com os colegas espanhóis, porque entendo que a regulamentação do Estatuto do Animador Sociocultural, ao qual está associado matérias como a carreira, o perfil profissional e o código deontológico é necessária e urgente face às novas políticas de formação e emprego.

O objecto central do manifesto da TASOC e da TISOC alude para a criação de legislação que defina claramente os requisitos legais para o acesso ao exercício da profissão de Animador Sociocultural, descriminando de forma clara e objectiva, o nível das habilitações académicas necessárias para exercer tais funções. Esta realidade é semelhante há vivida pelos Animadores Socioculturais em Portugal.

O "manifiesto" espanhol é para mim, um sinal claro de que os argumentos que se têm esgrimido ao longo dos anos, no sentido de desvalorizar ou até desacreditar a necessidade do Estatuto do Animador Sociocultural merece uma acção mais vincada junto das instituições com responsabilidades políticas e legislativas sobre matéria laboral. É evidente que as realidades sociolaborais dos Animadores portugueses e espanhóis são diferentes no conteúdo e na forma, mas no plano genérico poder-se-á trocar ideias sobre uma matéria que começa a ganhar contornos proeminentes no território ibérico.

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Revista Quaderns d' Animació

Está disponível o novo número da Revista Quaderns d' Animació i Educació Social editada pelo Prof. Mario Viché. Este periódico conta já com dez números publicados, todos eles disponíveis para consulta.

O presente número, para além do contributos habituais, conta com uma secção de divulgação bibliográfica e de recursos on-line para Animadores e Educadores.

domingo, 10 de janeiro de 2010

A militância como base estrutural

As experiências das minhas militâncias em alguns projectos associativos, em especial e com maior significado, em projectos que são de afirmação de uma identidade socioprofissional e de conjugação de esforços pela dignificação da profissão do Animador Sociocultural, Educativo, Social, Turístico, entre muitas outras denominações de uma prática comum, a Animação, tem contribuido para o somatório de uma certeza, entre muitas: há ausência de uma militância genuína e empenhada que contribua para a consolidação de posições colectivas em favor de um projecto que seja capaz de ser fortalecido a longo prazo.

É com nostalgia que recordo uma geração de Animadores que pelos contributos que legaram às novas gerações, são para mim, um sinal evidente de que acreditavam na militância a favor de uma causa maior, deixando a sua marca na história da Animação Sociocultural em Portugal. Sinto que falta a muitos dos Animadores de hoje esse espírito de voluntariado e de acreditar em valores que extravasam o limite da sua acção individual, mas que faz sentido quando ela se une à acção colectiva. Defendo uma militância pela e com a Animação Sociocultural, pela afirmação dos seus actores. Só seremos capazes de navegar até bom porto se a nossa militância fizer sentido com o colectivo, se formos capazes de mobilizar as diferentes vontades e opiniões para um projecto de defesa dos legítimos interesses da classe profissional dos Animadores Socioculturais.

Continuo a defender que a prática da Animação Sociocultural deve ser excercida pelos Animadores com formação académica específica, não excluindo de um possível documento orientador da profissionalização dos Animadores, aqueles que pela sua experiência e séria militância em defesa de temas centrais associadas à profissão e ao Estatuto merecem ser ouvidos.

Os tempos que vivemos não são muito diferentes de uma década atrás, pelo contrário, eles são da mais profunda e necessária militância. Precisamos de continuar a acreditar em utopias que um dia, tenho a certeza, serão realidade para desgosto de vontades contrárias que insistem em alimentar o pessimismo e a derrota por antecipação.

domingo, 3 de janeiro de 2010

Novos desafios

A Assembleia Geral das Nações Unidas declarou o ano 2010, Ano Internacional da Biodiversidade. A Comissão Europeia declarou-o Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social, e a Organização das Nações Unidas proclamou o Ano Internacional da Juventude, com efeito a partir de 12 de Agosto de 2010. Estes desafios são de uma magnitude de acção e visão globais excepcionais. Há uma interligação deveras importante que deve ser realçada e trabalhada em cooperação.

O Ano Internacional da Biodiversidade deve ser fecundamente aproveitado pelos Estados Membros para o desenvolvimento de um processo sério e cooperante no domínio da conscientização das comunidades humanas para a importância da biodiversidade. Esta é um Património da Humanidade de valor inigualável. A biodiversidade é a fonte da vida e como tal, mais do que decisões políticas é fundamental um programa de dimensão pedagógica e transformador, com um plano de execução ao níveis local, regional e nacional.

O Ano Europeu do Combate à Pobreza e à Exclusão Social tem que ser o epicentro da agenda política e um labor central do trabalho no terreno das instituições com responsabilidades em matéria do social. O combate à exclusão social, e consequentemente, da pobreza é uma tarefa de todos; é de uma actualidade e de urgência capital na tentativa de contribuir solidariamente para o bem comum. O humanismo constrói-se na dádiva por uma causa e na conscientização dos problemas reais das pessoas. Nós cidadãos não podemos ignorar estes flagelos sociais, é nossa responsabilidade assumir uma postura activa, cooperante e solidária. Parece-me fazer todo o sentido falar e agir na dimensão da Animação para o bem comum.

O Ano Internacional da Juventude sob o tema "Diálogo e Entendimento Mútuo" tem como objectivo a promoção do diálogo e do entendimento mútuo que passa pelo respeito dos direitos humanos, das liberdades e pela solidariedade, e não menos importante, pelos ideiais da paz. As acções a desenvolver procurarão impulsionar a participação plena e efectiva dos jovens em todos os aspectos da sociedade. Este será um ano rico em ideais, mas o mais importante estará ao nível das instituições democráticas e dos poderes políticos, no sentido de assumirem com a firmeza necessária a conjugação no plano supra partidário um projecto de compromissos e contribuirem com vigor para a materialização dos ideais e objectivos comuns que os povos partilharão ao longo do ano 2010.

O ano que agora começa também estará calendarizado por outros desafios, a uma escala muito inferior, mas não menos necessária e importante para muitos de nós. Estou esperançado num ano repleto de actividades mobilizadoras de vontades e mais importante, de liberdade e solidariedade para construirmos projectos alternativos.