quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Dia Mundial da Liberdade - 23 de janeiro

Liberdade

Viemos com o peso do passado e da semente
Esperar tantos anos torna tudo mais urgente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente
e a sede de uma espera só se estanca na torrente

Vivemos tantos anos a falar pela calada
Só se pode querer tudo quando não se teve nada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada
Só quer a vida cheia quem teve a vida parada

Só há liberdade a sério quando houver
A paz, o pão
habitação
saúde, educação
só há liberdade a sério quando houver
liberdade de mudar e decidir
quando pertencer ao povo o que o povo produzir.

Sérgio Godinho

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Quaderns d’ Animació i Educació Social

A revista Quaderns d' Animació i Educació Social editada pelo prof. Mário Viché, conta com um novo número participado por um leque de investigadores de Portugal, Espanha, Brasil, Argentina e França. Destaque para áreas de intervenção que não são alheias à animação sociocultural, pelo contrário, cruzam-se. Está em foco neste número a política cultural, a pedagogia e a educação sociais, sem descorar a reflexão sobre a formação dos animadores em Espanha e comparativamente no Brasil.



quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

Associação Nacional dos Animadores Socieducativos

Há um novo projeto associativo, ainda embrionário, divulgado através de uma rede social, algo inesperado, face ao quadro social e económico do país, mas, de todo pertinente perante o desânimo coletivo e os desafios sociais que nos envolvem a todos.

Segundo os seus dinamizadores a associação «(...) tem como objetivo a união dos profissionais da área da Animação, bem como, a criação de vários cursos de especialização na área da mediação. Antevemos  uma grande necessidade de técnicos especializados nos próximos anos e teremos com toda a certeza um papel fundamental na restruturação do Estado Social.». Este propósito coletivo é do ponto de vista das dinâmicas sociais, educativas e da revitalização do papel do animador no seio da comunidade e na sua interligação com as organizações, uma ação necessária para restabelecer e animar o papel da mediação, entre os grupos sociais e as instituições da sociedade civil.

Na minha opinião a futura estrutura associativa poderá revitalizar o debate em torno da discussão «sedada» sobre a uniformização da nomenclatura profissional dos animadores (socioculturais, socioeducativos, culturais, sociais, …), graças à designação social da associação. Este fato revela a irreverência e a necessidade de respeitar as diferenças dentro do grupo dos animadores. Esta designação fará reacender a discussão sobre a proposta de Estatuto do Animador defendida pela APDASC - Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Animação Sócio-Cultural, que defende uma única nomenclatura profissional.

O debate sobre o papel do Estado social é uma matéria sensível que exige um elevado sentido democrático e de responsabilidade cidadã na sua discussão. Infelizmente, não tive oportunidade de ouvir e ler algo sobre esse desígnio assinado por animadores. Desejo estar enganado, mas parece-me que as preocupações dos animadores são outras que não as do Estado social. A emergência do debate sobre o papel dos animadores socioeducativos vinculados à mediação, tal como é vincado pelos responsáveis do organização é extensível aos animadores socioculturais e demais agentes agregados à intervenção social e educativa. A figura do mediador sociocultural goza de diploma próprio definido pela Lei n.º 105/2001, de 31 de agosto de 2001, que enquadra o seu estatuto legal.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

A Animação sociocultural e os desafios da sociedade portuguesa

Nos últimos anos a sociedade portuguesa iniciou a travessia do deserto. Uma sociedade que produziu no imaginário social, um quotidiano de falsas ilusões materializadas na ascensão de uma «burguesia» movida pelo enriquecimento fácil, mas vazia de ideias para efetivar um plano de desenvolvimento comunitário sustentado. Vivemos um «ciclo de ouro» alimentado pelos parceiros europeus, agora pagamos a fatura da irresponsabilidade política e da ambição coletiva em projetarmo-nos socialmente como uma sociedade de elite, e pobres em matéria de propriedade cultural. Vivemos a ilusão de sermos uma sociedade do futuro, fruto da indisciplina, uma leviandade transversal a todo o sistema governativo.

Assistimos ao declínio da cultura. As instituições públicas do setor cultural e outras com responsabilidades neste setor fomentaram a política do subsídio, em detrimento de projetos socioculturais capazes de produzir resultados que sustentassem programas de desenvolvimento cultural no espaço geográfico dos territórios locais e regionais.

Os processos de democracia e democratização culturais foram preteridos em função do espetáculo do imediatismo, do show-off, enfim, o erário público alimentou coletividades estéreis, incapazes de continuarem a atividade sociocultural sustentada num trabalho valorizador e de salvaguarda das raízes culturais da comunidade. Felizmente, às exceções, são projetos que devem continuar a serem apoiados graças ao bom trabalho de ação cultural e de participação comunitária que foram capazes de empreender na comunidade.

Projetaram-se novos equipamentos culturais, mas os responsáveis políticos descoraram o essencial, o planeamento e a criação de serviços educativos desenhado para ser um mecanismo de educação não formal, um instrumento dinâmico de aprendizagens e de educação para a cultura. Hoje temos os recursos infraestruturais e humanos, falta-nos a visão política que sustente o binómio educação e cultura. Talvez pela ausência e insistência absurda dos decisores em não quererem ouvir os técnicos.

Insisto na ideia da economia social e solidária. Os recursos comunitários continuam a ser um eixo estratégico para (re)fundar um projeto de revitalização da economia local, um nicho de crescimento à microescala importante para a continuidade da vida cultural das nossas comunidades, geradora de dinâmicas económicas que não salvará as economias regional e nacional, mas estou convicto de que alavancará a economia local. É urgente despertar nos cidadãos os valores da solidariedade, da participação comunitária, da cidadania comprometida com a mudança coletiva e da cultura do verdadeiro voluntariado para que as comunidades avancem, com firmeza num processo global de transformação social.

É expectável que os animadores socioculturais não descartem o papel pró-ativo que devem assumir no desiderato de contribuir para a mudança efetiva. Esta deverá estar projetada no exercício profissional dos animadores. Arrisco a afirmar que os agentes socioculturais afrouxaram as leituras críticas sobre a realidade e respetiva ação coletiva, «demitiram-se» da responsabilidade de assumir categoricamente uma posição de rutura e de transformação social. Falta alavancar com firmeza na ação a cultura do bem comum, um desiderato comunitário e um dos desafios imediatos nos processos de animação sociocultural.