sábado, 5 de outubro de 2013

Definir prioridades com responsabilidade social

A Associação Portuguesa para o Desenvolvimento da Animação Sócio-Cultural (APDASC) é a promotora de uma petição cujo o objeto é a implementação do Estatuto do Animador Sociocultural. Uma iniciativa louvável após quase três anos de silêncio sobre esta matéria, de ausência de reflexão e de debate entre pares sobre uma proposta de estatutos, sobre a qual tenho sérias reservas. 

No blog «Animação Sociocultural e Insularidade» escrevi por várias vezes sobre esta matéria, onde apresentei alguns tópicos que poderiam servir de base de igualdade entre animadores (socioculturais, comunitários, socioeducativos, culturais, sociais) e consequentemente, de inclusão de todos. As práticas são comuns em função do exercício da profissão, mas a identidade associada à nomenclatura profissional que tem origem na formação académica é particular a cada animador.

Não estou contra o estatuto, pelo contrário, sou um defensor. A minha discordância prende-se com a redação do texto da proposta de Estatuto do Animador Sociocultural votada em Assembleia-geral da APDASC, durante o I Congresso Nacional de Animação Sociocultural realizado na cidade de Aveiro, nos dias 18, 19 e 20 de novembro de 2010. O documento continua a ser uma proposta que carece de revisão de conteúdos e de discussão entre pares, por forma a que seja fortalecido perante o coletivo de animadores. É espectável que a entidade promotora da petição esclareça os animadores socioculturais sobre a importância capital do documento que será remetido à Assembleia da República. Qual a argumentação de suporte à petição?

A título de lembrete referir que as carreiras na Administração Pública  agregadas à animação foram extintas pelo Decreto-Lei 121/2008, de 11 de julho de 2008. Refiro-me às extintas carreiras de técnico-profissional e técnico superior de animação cultural, técnico profissional animador juvenil, técnico profissional de animação cultural e desporto, entre outras carreias agremiadas à animação. Considero uma urgência social e de coesão dos animadores o reconhecimento político da carreira do animador sociocultural. Este sim, é o primeiro passo de um longo caminho. 

Este é o momento de refletirmos sobre o papel da animação sociocultural e dos seus agentes em vários domínios da vida pública no quadro político, educativo, socioeconómico, cultural e social. É tempo de ação coletiva, e isso exige uma séria reflexão sobre quem somos, que direção queremos tomar e que ações coletivas ambicionamos concretizar a médio e longo prazo

Gostaria que os dirigentes associativos  se pronunciassem sobre o encerramento das licenciaturas em animação devido à falta de candidatos aos respetivos cursos, ou talvez pelo défice qualitativo do plano de estudos, o que também poderá contribuir para o diminuto número de candidatos. Uma tomada de posição sobre a empregabilidade dos animadores em Portugal. Há estudos sobre esta realidade social? Há medidas que possam contribuir para o reconhecimento da figura do animador? Talvez se começarmos por discutir a empregabilidade possamos encontra respostas para algumas questões que muitos animadores fazem a si mesmos, sabem as respostas mas preferem continuar a ignorá-las. 

O Estatuto do Animador é importante, mas o reconhecimento da carreira é prioritário.

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