quarta-feira, 12 de junho de 2013

A animação sociocultural e o território educativo

Os territórios educativos enquanto espaços de educação formal, informal e não formal são lugares de dinâmicas sociais e culturais de crianças e jovens, são espaços de criação de identidade e de cultura, capazes de proporcionarem experiências partilhadas. A escola como território privilegiado da educação formal tem de ser observada como agente de mudança social e, consequentemente, também cenário de políticas de animação sociocultural, ou seja, a animação enquanto pedagogia transformadora implícita aos processos geradores de participação cidadã e de desenvolvimento comunitário tem que ser potencializada através das dinâmicas educativas.

Neste quadro de realização é pertinente focar o projeto de enriquecimento curricular «Mercado Quinhentista» dinamizado numa primeira edição apenas pela comunidade educativa da Escola Básica e Secundária de Machico. Nos passados dias 07, 08 e 09 de junho, realizou-se a 8ª edição do projeto cuja temática foi «Machiquo Villa Manuelina», numa organização da Câmara Municipal de Machico e da Escola Básica e Secundária de Machico. Uma organização que conta com a participação ativa de escolas, organizações educativas e culturais locais e regionais, partilhando dos objetivos e acrescentando valores culturais. À luz da matriz conceptual da animação sociocultural penso ser correto considerar o «Mercado Quinhentista» um projeto de animação, porque ele é fortemente envolvente e redesenhado pela participação comunitária a cada edição.

O projeto de recriação histórica extravasou o território da educação formal, mas mantêm-se fiel aos objetivos traçados pelos docentes responsáveis pela paternidade do «Mercado Quinhentista» e a uma metodologia de pedagogia participativa, de envolvência e coresponsabilidade de todos os atores que corporizam o projeto. O envolvimento comunitário através da participação ativa das organizações educativas, culturais e sociais, do comércio local e a emergência de novas dinâmicas turístico-culturais associadas ao «Mercado Quinhentista» revelam práticas transformadoras de uma cidadania alheia à vida cultural, com o emergir de uma pedagogia da participação cidadã voluntária, da promoção da cultura e da história, como ativos culturais decisivos para o alavancar da economia local mediadas por processos educativos nos contextos da educação formal e da não formal.  

Este é um exemplo da necessária e urgente complementaridade de políticas de animação sociocultural que precisam de germinar nos territórios educativos. É preciso construir uma cidadania ativa alicerçada na democracia da cultura e da responsabilidade socioeducativa partilhada por todos os atores sociais. Envolver é um verbo de ação, e deverá sê-lo na construção de políticas educativas e culturais, numa relação de proximidade e de compromisso. A animação sociocultural enquanto pedagogia participativa e transformadora através da ação humanizadora de homens e mulheres conscientes do seu papel cidadão só será efetiva, dinâmica e construtora de um tecido socialmente equilibrado, se houver processos mobilizadores da participação de crianças e jovens em projetos que garantam equidade no acesso à cultura e à educação.

A escola de hoje tem que proporcionar experiências de cidadania cultural, de transmissão de valores democráticos e de construção de um diálogo estruturado. A animação sociocultural e a educação deverão ser o suporte de políticas sustentáveis que visem o desenvolvimento comunitário pela participação de todos os atores sociais. É necessário reforçar o diálogo e a cooperação entre a escola e a comunidade envolvente, uma dinâmica que não pode ser entendida como perda da autonomia, mas como a dinamização do território educativo não formal. Este é um espaço privilegiado para a pedagogia dos valores e da cidadania.

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