quarta-feira, 29 de dezembro de 2010

“A Animação não é exclusiva dos Animadores”


“A Animação não é exclusiva dos Animadores”. Esta afirmação não é minha, nem partilho dela. Pelo contrário, é necessário um discurso unificador que reflicta a necessidade de uma acção colectiva que legitime a acção dos Animadores Socioculturais não defesa dos seus reais interesses e direitos socioprofissionais. Sou intransigente e não subestimo a minha autonomia de reflexão sobre o tema e acção quotidiana, especialmente, quando alguém com responsabilidades na formação académica de futuros Animadores defende premissas que considero lesivas para a Animação Sociocultural e para o futuro profissional dos seus agentes.

Princípios como a liberdade de pensamento e autonomia na acção são inalienáveis da pessoa humana, e é com alguma desilusão que presencio a alienação dos Animadores face a matérias que exigem visão crítica sobre o presente e o futuro. A minha perplexidade aumenta quando encontro na blogosfera “promoção” à afirmação supra citada. Os Animadores necessitam de uma dose de motivação colectiva, de espírito solidário e de perder o medo de lutar contra algumas pretensões isoladas, mas que de alguma forma consegue passar uma mensagem que em nada privilegia uma acção participativa com as pessoas, prática que eu considero estar directamente associada ao exercício profissional dos Animadores.

A afirmação que está a substanciar esta reflexão levanta outras questões que entendo ser oportuno referi-las. O Estatuto do Animador é uma das possíveis soluções para minimizar as consequências de apropiações indevidas da categorização profissional Animador e de outros "males". A proposta de Estatuto apresentada pela APDASC no congresso nacional realizado em Novembro de 2010, está a ser ultimada por uma comissão de trabalho constituída para o efeito , é oportuno que ela tenha em linha de conta um conjunto de possíveis cenários de profissionalização dos Animadores. Aos Animadores Socioculturais está vedado a possibilidade de exercerem funções de antropólogos, sociólogos, historiadores, filósofos e o exercício da medicina. Porque razão alguém se lembra de defender que profissionais qualificados em outras áreas do saber possam exercer a Animação Sociocultural ou até se autodefinirem de Animadores?

4 comentários:

Bruno Trindade disse...

Boas Albino!!
Mais uma vez concordo com a tua opinião.
Mas é necessário clarificar e valorizar ainda mais o Estatuto Profissional do Animador.
Uma vez que qualquer sujeito com um curso profissional em animação nos passa à frente com o pretexto que estamos em crise.
Temos que fazer algo para estes supostos "animadores" deixem de usurpar postos de trabalho que deveriam ser ocupados por Animadores Licenciados.
Esta situação só pode mudar se todos lutarmos para o mesmo.
Abraço
Bruno Trindade

Albino Viveiros disse...

olá Bruno!

A formação de Animadores continua a ser um dos temas de discussão. Defendo a profissionalização dos Animadores com formação de nível secundário/profissional e/ou de ensino superior. Ambas as categorias profissionais são necessárias, mas, mais importante, é os Animadores terem a capacidade de discernimento e centrarem o debate no que realmente é fundamental discutir.

Eu defendo que o Estatuto do Animador deva ser um instrumento seriador das diferentes categorias de Animador e congregador das diferentes nomenclaturas profissionais.

Os Animadores independentemente da sua categoria profissional tem o pleno direito a uma remuneração mensal em troca da sua mão de obra.

É urgente reorganizar o ensino ao nível da formação dos Animadores. O Estatuto não é a solução para todos os problemas.

Abraço,

Albino Viveiros

Doutor das Reticências disse...

Olá, venho por este meio comentar os comentários do que propriamente ao post.

Tenho o curso profissional de nível III de Animação/Desporto, sou licenciado em Educação (ramo de Formação e Gestão de Recursos Humanos)e também me encontro a frequentar o Mestrado em Sociologia. Nunca exerci como animador sociocultural (embora saiba perfeitamente o que é a animação e o que é ser animador).

Entendo a crise profissional (e não só!) que vivemos, sei muito bem o que é psicólogos e sociólogos assumir o papel de técnicos superiores de educação; mas não é por isso que o desemprego diminui. E o que é certo é que, por vezes, nem sempre um licenciado em psicologia assume as competências ideais (ou indicadas?) para exercerem a função de animador - se calhar cabe às entidades patronais serem mais exigentes nos requisitos à profissão no recrutamento e selecção de candidatos à função.

O que eu quero chegar é numa questão que o Albino referiu que é a remuneração. Queria frisar que um licenciado em animação não recebe o mesmo que um técnico profissional.

A mensagem de apreço que eu tenho a dar é força e coragem para o que temos que enfrentar. Sabemos qual é a realidade espanhola no que concerne à animação - sempre podemos investir no estrangeiro! Sabemos que os níveis de empreendedorismo estão a aumentar - porque não criamos a nossa própria empresa?

Já que estou no blogue mais indicado para falar sobre animação, sei que associações não faltam (como é o caso da APDASC, da CASCA, da APDASC), mas alguém me sabe dizer se a ANASC ainda existe? É que o site está mais do que desactualizado...


Com os melhores cumprimentos,

Paulo Almeida Franco

Eu e a Animação disse...

Boa tarde,

Na verdade, é com muita pena que realmente, como Técnica Superiora de Animação, vejo factos que levam a que a afirmação "A animação não é exclusiva dos animadores" seja verdade... No meu próprio serviço, pediram, na semana passada a um licenciado em Ciências da educação para realizar um torneio de ping pong, pelo facto de ele ser homem... eu, como mulher, e como profissional classificadíssima para desenvolver um projecto deste gabarito, não fui chamada para nada... Temos que continuar a lutar para que a Animação seja apenas para animadores, tal como a contabilidade é para contabilistas, ou a medicina para os médicos ou a educação de infância para as educadoras de infâncias ou o ensino formal para os professores... Em relação a estes últimos, não temos nós, animadores, conhecimentos e capacidades para os realizarmos? Muitas vezes melhor que certos profissionais, mas "cada macaco no seu galho"! Se ele é cientista da educação não é animador... Se conhece as suas competências, saberá que não são as mesmas de um animador, apesar de actuar no mesmo ambiente. Eu considero que a usurpação do nosso trabalho tem a ver com o facto de ser uma aprendizagem e uma prática fácil... Parece que é fácil fazer animação, que qualquer um pode fazer animação e, como tal, qualquer um pode ser animador! Será assim? Depois olha-se para a qualidade do que vai aparecendo feito e constata-se que os animadores são necessários e fazem falta bons profissionais!

Deixo o meu contributo como grito de revolta, no meio de tantas outra revoltas típicas da profissão de animador.