"Faço política para que outros façam cultura". Esta frase é um excerto da entrevista concedida pelo Ministro da Cultura ao Semanário Expresso, publicada na edição do passado dia, 12 de Julho.
Independentemente de eu partilhar ou não, as linhas de acção escolhidas pelo actual ministro com a tutela da cultura, a frase que serve de título ao post, no nosso entender, ilustra bem, aquele que deverá ser, o lema dos políticos com responsabilidades em matéria cultural, independentemente de situarem a sua acção governativa ao nível ministerial, numa direcção regional ou no quadro autárquico.
Reportarei a minha reflexão ao Poder Local, um território político onde há uma maior relação de proximidade entre os políticos eleitos e a sociedade civil, e consequentemente uma vinculação de poder mais vincada nas relações sociais e institucionais. É certo, que hoje há um conjunto de pessoas com responsabilidades políticas nas autarquias que têm desenvolvido um trabalho meritório no contexto local, na afirmação das especificidades socioculturais do território e na valorização e promoção de uma cidadania activa e participativa nas políticas culturais locais.
Por outro lado, continuamos a ter um grupo de políticos que sustentam as suas acções na retórica, que insistem na política do espectáculo e da música de cabaré; continuam a ignorar a necessidade de gerar processos participativos, de construção de uma política cultural nascida das reais necessidades e demanda da sociedade civil. Uma política alicerçada na Animação Sociocultural; uma acção conducente com uma política de valorização da cultura local e da diversidade cultural. É fundamental uma acção política direccionada para a democracia cultural, um estádio que advogue a participação cidadã, enquanto sinónimo de uma cidadania cultural.
O "fazer" cultura é um desafio às populações, às colectividades de cultura e recreio, à sociedade civil, mas acima de tudo, aos Animadores Socioculturais, que devem estar conscientes do seu papel na comunidade. Eles têm a desempenhar um papel de intervenção, um exercício de mediação, de gestão de recursos socioculturais e comunitários, e nunca de "fazedores" de cultura. Os Animadores devem sim, serem agilizadores de processos que conduzam à mudança social e cultural, à transformação de cidadãos passivos em pessoas empenhadas em contribuir para a afirmação da sociocultura, na dinamização de processos democráticos de afirmação do território cultural num mundo globalizado.
Aos políticos cabe-lhes gerir o território, proporcionar condições favoráveis ao desenvolvimento das comunidades e facultar meios e recursos para que a mudança aconteça, nunca aspirar a "fazer" cultura.
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