«A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela
se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais
que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso:
para que eu não deixe de caminhar» (Fernando Birri citado por Eduardo Galeano).
A alguns dias atrás partilhei um vídeo intitulado «Para Que
Serve a Utopia?». Desde esse momento tenho-me questionado sobre o verdadeiro
sentido da utopia; sobre o seu alcance prático, enfim, trouxe-me alguma inquietação
e a vontade de continuar a «utopiar» com os outros. Na verdade, a utopia inflama-me
o espírito crítico e a vontade de progredir na ação.
A utopia é o néctar que me alimenta o espírito provocador de
cidadão e de animador sociocultural. Talvez para os puristas da animação, a palavra
«utopia» não integre o léxico do animador, para mim, ela está associada às práticas
de animação, à transformação do coletivo, à capacidade de reação face a
momentos de tensão social, como aqueles que a história se encarregará de firmar
num futuro, não muito longínquo.
Acredito que a utopia é necessária à animação sociocultural.
É fundamental acreditar sempre, mesmo nos momentos críticos do processo. A
utopia deverá impulsionar a nossa capacidade criativa de desenhar soluções, de
contribuir para a transformação e para o progresso social da comunidade.
Fernando Birri questionado sobre para que serve a utopia é perentório
ao afirmar que serve para não deixar de caminhar. É este caminho que muitos de
nós, animadores socioculturais, agentes de mudança, recusamos trilhar e delegamos
nos outros; somos impedidos pelo medo de olhar a linha do horizonte e acreditar
que é possível sonhar, que é na ação coletiva que avançamos e que deixamos o
nosso contributo.
Precisamos de animadores socioculturais que acreditem na
utopia. É urgente que os homens e mulheres da minha geração, agentes de mudança,
tenha a coragem de caminhar em direção ao horizonte, sabendo que nunca o
alcançarão, mas acreditam que é trilhando outros caminhos que a transformação social
tem lugar no concreto da vida coletiva.
Sem comentários:
Enviar um comentário