quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

«Para que serve a utopia?»

«A utopia está lá no horizonte. Me aproximo dois passos, ela se afasta dois passos. Caminho dez passos e o horizonte corre dez passos. Por mais que eu caminhe, jamais alcançarei. Para que serve a utopia? Serve para isso: para que eu não deixe de caminhar» (Fernando Birri citado por Eduardo Galeano).

A alguns dias atrás partilhei um vídeo intitulado «Para Que Serve a Utopia?». Desde esse momento tenho-me questionado sobre o verdadeiro sentido da utopia; sobre o seu alcance prático, enfim, trouxe-me alguma inquietação e a vontade de continuar a «utopiar» com os outros. Na verdade, a utopia inflama-me o espírito crítico e a vontade de progredir na ação.

A utopia é o néctar que me alimenta o espírito provocador de cidadão e de animador sociocultural. Talvez para os puristas da animação, a palavra «utopia» não integre o léxico do animador, para mim, ela está associada às práticas de animação, à transformação do coletivo, à capacidade de reação face a momentos de tensão social, como aqueles que a história se encarregará de firmar num futuro, não muito longínquo.

Acredito que a utopia é necessária à animação sociocultural. É fundamental acreditar sempre, mesmo nos momentos críticos do processo. A utopia deverá impulsionar a nossa capacidade criativa de desenhar soluções, de contribuir para a transformação e para o progresso social da comunidade.  

Fernando Birri questionado sobre para que serve a utopia é perentório ao afirmar que serve para não deixar de caminhar. É este caminho que muitos de nós, animadores socioculturais, agentes de mudança, recusamos trilhar e delegamos nos outros; somos impedidos pelo medo de olhar a linha do horizonte e acreditar que é possível sonhar, que é na ação coletiva que avançamos e que deixamos o nosso contributo.

Precisamos de animadores socioculturais que acreditem na utopia. É urgente que os homens e mulheres da minha geração, agentes de mudança, tenha a coragem de caminhar em direção ao horizonte, sabendo que nunca o alcançarão, mas acreditam que é trilhando outros caminhos que a transformação social tem lugar no concreto da vida coletiva. 

Sem comentários: