Os dados divulgados no relatório do Eurobarómetro coloca Portugal
na cauda da Europa, no que respeita à participação cultural dos cidadãos.
Talvez, um dos sintomas da «patologia cultural» que mais contribui para o
decréscimo do consumo cultural esteja relacionado com a crise
económico-financeira, sintoma que alavanca um conjunto de fatores que explique
o desinteresse luso pela cultura e traga à luz do dia, outros elementos
expositivos.
É necessário balizar dois conceitos fundamentais: o consumo participação
culturais. O consumo está diretamente ligado ao poder de compra dos cidadãos,
aos hábitos culturais adquiridos pelos processos de socialização e educativo,
pelo meio envolvente, e sem dúvida pelas dinâmicas que as entidades públicas e
associativas são capazes de potenciar nos territórios culturais. A participação
pressupõe um envolvimento ativo das pessoas em processos de fruição e criação culturais
que estão, diretamente, associados à promoção de projetos artísticos, alguns
deles de elevado valor cultural desenvolvidos por coletividades locais.
A participação na vida cultural é um problema social
transversal às políticas públicas de cultura e educação. A educação deve ser
entendida e percecionada pelos agentes culturais e pelos políticos como um eixo
central e transversal da ação cultural. Há a ausência de uma pedagogia cultural
palpável em algumas instituições educativas nos territórios municipais, também
o mesmo, acontece em relação à educação em alguns organismos com um papel
importante na descentralização e democratização culturais. A perceção
sociopolítica do papel da cultura para a formação integral dos indivíduos é
inexistente. Este é o ponto de partida para um trabalho contínuo e de
envolvimento de um conjunto de atores da cultura e da educação, é uma tarefa de
todos.
O investimento cultural é manifestamente pobre, muitas das as
instituições de vocação cultural e artística continuam a depender dos subsídios
dos organismos públicos para manter uma atividade regular. Não sou totalmente
contra a revisão da forma de atribuição dos apoios públicos, sou pela exigência
de maior rigor, ou seja, há que encontrar formas alternativas e mais ativas das
instituições culturais contribuírem para o enriquecimento da comunidade através
de implementação de dinâmicas que, em alguns casos, possam revitalizar os
processos de educação para a cultura, noutros, desenvolverem a vocação de pedagogas
culturais. Estou convicto que a realidade poderá ser transformada no território
municipal, ou seja, é responsabilidade da sociedade civil contribuir para a
transformação sociocultural.
É preciso pensar a cultura a longo prazo, desenhar um
programa de educação para a cultura que envolva ativamente as associações e
centros culturais, as galerias de arte, as bibliotecas municipais, a escola, as
autarquias, os centros cívicos e os muitos agentes culturais e educativos. Este
é um desafio que precisa de ser replicado na escala local, um processo que
implica uma união de facto, da educação e da cultura com a realidade concreta
da comunidade. É urgente reforçar o papel da educação artística, trazer para a
rua os artistas, os agentes culturais, povoar os espaços públicos, formar e educar
os públicos desde a idade escolar, envolvendo-os em projetos culturais através
de parcerias com as instituições culturais e artísticas, provocar uma mudança de
paradigma de desenvolvimento.
Haverá verdadeiro desenvolvimento sustentável
quando houver uma consciência coletiva real do papel da cultura. A dimensão
cultural comunitária não pode ser entendida como algo abstrato, pelo contrário,
é o «fermento» da identidade de cada pessoa.
Precisamos urgentemente de parar, escutar e transformar.
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