sábado, 2 de outubro de 2010

Por uma necessária autonomia da acção cultural

Fiquei um pouco preocupado quando tomei conhecimento através de um órgão de comunicação social sobre a "brilhante" ideia de um autarca, felizmente, sem pelouro, que defende uma concertação alargada de calendário com as autarquias limítrofes em matéria de promoção da actividade cultural. Ou seja, o senhor autarca defende uma acção cultural no município condicionada pela política cultural de outras autarquias, certamente com realidades socioculturais e educativas diferentes. Tudo isto, para que não haja coincidência de datas na realização das iniciativas culturais que acontecem autonomamente nos diferentes municípios.

Parece-me que aqui a preocupação política não está centrada na formação cultural das pessoas, na valorização da cultura enquanto bem colectivo, pelo contrário, a preocupação manifestada é consumada nos números que ajudam a materializar e a definir as estatísticas dos públicos da cultura.

Entre muitos problemas estruturais e de mentalidades há um resquício que não desaparecerá nos próximos tempos - o plágio das ideias no exercício da acção cultural municipal. O território insular pelas suas características geográficas condiciona toda a actividade social, económica e cultural. Esta realidade é incontornável, ela é um desafio permanente para os técnicos do pelouro da cultura das autarquias, leia-se, para os Animadores Socioculturais no sentido de estes agentes desenharem soluções criativas capazes de responder às necessidades socioculturais da população local. É necessário que os políticos com responsabilidades em matéria de políticas cultural e educativa tenham uma visão global e real do papel que a cultura assume como motor de desenvolvimento local.

É necessário a promoção da autonomia da acção cultural. Não podemos continuar a olhar para a cultura como números, mas sim, como um investimento nas pessoas através de projectos culturais e artísticos promotores de uma pedagogia cultural ou de educação para a cultura. A formação de públicos é um trabalho contínuo e diversificado nas suas diversas modalidades. As plateias repletas de pessoas nem sempre é sinónimo de um público educado, interessado, fruto de um trabalho de democracia cultural, arrisco a afirmar que é qualquer coisa de efémero. Os agentes socioculturais não podem centralizar a sua acção nos números, devem sempre premiar a autonomia da acção sociocultural e educativa com as pessoas.

Sem comentários: