É
preocupante o encerramento abrupto dos cursos superiores de animação, considero
um revés na afirmação social da profissão e na formação académica dos
animadores. Esta medida origina diferentes sentimentos e leituras sobre o
processo e contribui para alimentar a descrença coletiva de transformação
social da realidade atual. Outra leitura, talvez reúna menos apoio, mas com
maior fundamento à luz da realidade social, política e educativa do país, é o
ajustamento da oferta formativa à procura por parte dos candidatos ao ensino
superior. Não quero descurar a possibilidade de um ajustamento da procura às reais
necessidades do mercado de trabalho.
Qual o
número de animadores licenciados em Portugal? Porque não há uma uniformização
dos planos de estudos das licenciaturas em animação sociocultural? Porquê as
muitas nomenclaturas para designar os cursos de animação quando têm em comum a
matriz axiológica? Estas são questões que devem servir de base para
compreendermos o processo em marcha. Continuo a defender uma única nomenclatura
em animação, com um plano de estudos comum e uma aposta inequívoca em áreas de
especialização que sejam uma resposta aos paradigmas de desenvolvimento dos
territórios e das comunidades.
A
animação sociocultural não é panaceia para os males sociais e os animadores não
são «bombeiros» de serviço para socorrer as instituições. É preciso balizar a
profissão, é fundamental definir competências técnicas e sociais, mas acima de
tudo é urgente fomentar uma plataforma de pressão que desperte nas instituições
a necessidade das dinâmicas da animação no seio organizacional. A aproximação
progressiva entre as organizações de ensino e o mercado laboral é um desafio
permanente e, é por excelência uma porta aberta a um intercâmbio de
experiências que possibilitam um real conhecimento do que é ser animador
sociocultural.
Os
animadores reivindicam espaços de intervenção e reclamam para o exercício da
profissão a presença de agentes socioculturais em inúmeras organizações da
administração pública e da sociedade civil. Este é um exercício de cidadania,
um direito que lhes assiste e um propósito sério e digno de registo. Não
considero que a animação sociocultural esteja moribunda, ela continua dinâmica,
talvez a pujança dos animadores esteja orientada para labores exclusivamente individuais
em detrimento do coletivo. Os novos movimentos sociais são expressão de
dinâmicas de animação sociocultural, de força coletiva que irrompe do anonimato
cidadão e conquista identidade de grupo impelindo para um novo paradigma de
cidadania na era global.
Os contextos
educativos e sociopolíticos alteraram-se e com eles, nós, cidadãos e animadores,
somos forçados a nos reposicionar no mundo, a ler e reinterpretar a realidade, a
mediar conflitos e implementar soluções à luz dos novos paradigmas. A animação
sociocultural enquanto metodologia de intervenção comunitária e padrão estratégico
de fomento da participação ativa dos indivíduos nos processos de mudança,
encontra nos grupos e nas instituições os recursos endógenos ao desenvolvimento
local sustentável.
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