O tempo sociopolítico em que estamos envolvidos parece-me
ideal para refletir a animação sociocultural como pedagogia comunitária e de
alavancagem das consciências individuais e coletivas. É verdade que a
conjugação do presente e do futuro são de grandes e anestesiantes incertezas,
mas também é verdade, que a esperança e a capacidade transformadora da ação
coletiva perante as desigualdades que minam a coesão social são focos de resistência
e de alento numa jornada de resiliência social.
Os animadores socioculturais têm a nobre missão de
contribuir para a mudança social, para o alentar da esperança das pessoas nas
instituições. É tempo das organizações contribuírem para uma cidadania inclusiva
e participativa, fomentarem processos de (des)envolvimento comunitário e capacitarem
os cidadãos para que assumam um protagonismo responsável e uma ação sustentada
na procura do bem-estar da comunidade. Este tem que ser um projeto político e
social, este é talvez, um exercício crítico e de responsabilidade acrescida
para todos.
A discussão sobre a animação sociocultural e os seus âmbitos
de intervenção têm que superar as reflexões clássicas restritas aos fóruns
académicos. É desejável que sejamos capazes de alavancar novos espaços e tempos
para a intervenção da animação. As realidades sociopolítica, cultural e
económica presentes são laboratórios para o advento de possíveis novos âmbitos de
intervenção em animação sociocultural. Estou em crer em não estar a forçar
novos espaços de ação, pelo contrário, o contexto social está a favorecê-lo. É preciso
construir respostas a partir do tecido vivo da comunidade. As respostas têm que
nascer das pessoas e para as pessoas.
Que contributos podem os animadores socioculturais dar num
contexto de intervenção para mitigar a crise atual? Esta é a questão de
partida, aparentemente simples, mas complexa do ponto de vista dos recursos
comunitários. É inteligente e perspicaz introduzir o tema no debate académico,
ou então podemos continuar a nos questionar sobre a pertinência dos processos
de intervenção na perspetiva metodológica e pedagógica da animação
sociocultural e as respostas serão as clássicas.
Os direitos laborais e as respostas insipientes do mercado
de trabalho, o papel da educação no mundo de hoje e a formação para a cidadania ativa, as desigualdades sociais, a cultura como plataforma das identidades e de coesão social e territorial, o regresso ao mundo rural e as perspetivas de futuro, a austeridade como resposta política e a aniquilação do ser pessoa e do ser comunidade, a promoção do bem comum como desafio e responsabilidade de todos, estes são alguns temas
pertinentes para uma reflexão à luz dos princípios da animação sociocultural.
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