sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Animação sociocultural, didática da participação

Não basta (des)envolver. É preciso educar para a participação.

A participação não pode ser reduzida a um chavão em animação sociocultural, ou seja, não basta afirmar e sublinhar a importância da participação cidadã nos processos, antes, terá que haver uma cultura da participação democrática e horizontal, que nasça das bases e do envolvimento responsável e consciente do grupo.

A participação pressupõe um processo de maturação da cultura democrática, de diálogo construtivo e horizontal, de aprendizagens permanentes, de empoderamento individual e coletivo.

A animação sociocultural como didática da participação é o eixo central de um processo de aprendizagem, de facilitação de ferramentas e de métodos para a participação comunitária. Precisamos de refletir a animação enquanto metodologia de intervenção social, cultural, educativa e cívica, partindo do pressuposto de que a animação é o suporte do exercício da política cidadã.

Entendemos que os animadores socioculturais na prossecução da ação individual e colectiva devem privilegiar o princípio da educação no século XXI defendido pela UNESCO. Este princípio está alicerçado em quatro pilares fundamentais: aprender a conhecer, aprender a fazer, aprender a viver juntos e aprender a ser.

Aprender a conhecer implica um olhar extramuros, ou seja, aprender a ler e a interpretar os sinais dos tempos, as micro realidades sem excluir as macro realidades, pois há muito que vivemos no mundo global. A aprendizagem do conhecimento exige um olhar analítico, crítico e problematizador que busca soluções a partir da sua própria resiliência e dos colectivos.

O aprender a fazer é um desígnio cidadão, do qual os animadores socioculturais são os baluartes deste princípio educativo, incluindo os outros três. O empoderamento das comunidades também se faz pelo processo educativo não formal, munindo-os de ferramentas que viabilizem os indivíduos a serem os protagonistas da transformação social, da projecção da sua identidade enquanto comunidade e da sua emancipação sociopolítica.

Ser cidadão é ter voz e liberdade de intervir na vida comunitária como resultado de um processo de consciencialização e de aquisição de competências socioeducativas que fortaleçam as dinâmicas de aprendizagens participativas.

Aprender a viver juntos apela para o princípio da multiculturalidade e da tolerância, para os valores da promoção da paz, da dignidade humana e da democracia. O respeito pelo outro aloca um conjunto de valores humanos e princípios inquestionáveis na ação transformadora. A animação sociocultural deve promover sempre o diálogo aberto, pacífico e enriquecedor entre os povos, entre culturas distintas e longínquas. Aprender a viver juntos é um desígnio permanente e o pilar mais arrojado da educação no século XXI.

Aprender a ser é um processo de aprendizagem comum que encerra os três pilares anteriores. Este princípio educativo evoca a autonomia do sujeito, o ser cidadão num mundo global e multicultural, implica o vigor da resiliência face à complexa realidade social envolvente que exige múltiplas leituras e ações transformadoras e apaziguadoras.


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