Ser Comunidade é um desafio permanente. Sê-lo é mais do que partilhar um território geográfico com outros indivíduos, vai para além da criação de laços sociais, enquanto, símbolo de pertença a um lugar ou a um grupo, ele supera o compromisso da cidadania vincada nos direitos e deveres de cada pessoa para com a comunidade e vice-versa. Ao interrogarmo-nos sobre o que é ser comunidade, o nosso sentimento de pertença a um território geograficamente definido é, talvez, a resposta imediata e inconsciente, mas paralelamente, apodera-se de nós um ligeiro desconforto social cujo antídoto está na partilha do ADN cultural comum a um povo.
Enquanto Animador Sociocultural entendo que o Ser Comunidade, também se fundamenta e alimenta pela criação cultural e democratização dos espaços públicos. Estes são lugares de partilha e de fortalecimento da ideia de pertença numa relação de proximidade e de exaltação dos valores comunitários que a história local e o património cultural imaterial e material transportam associados às vivências quotidianas de diferentes gerações que anonimamente contribuiram para construir uma comunidade.
Os tempos actuais são de grandes incertezas quanto ao futuro e de pressões sociais; mais do que nunca, todos nós precisamos de sentir que pertençemos a um território, precisamos de sentir viva a nossa identidade comunitária construída pela cultura. Os laços simbólicos de pertença ao território cultural também podem ser (re)descobertos nos monumentos, nas tradições, nas práticas comunitárias de sociabilidades, nos rituais quotidianos que preenchem a vida familiar e na relação de proximidade de vizinhança.
A propósito e porque parece-me ser digno de registo, uma breve alusão à Viagem Monumental, espectáculo comemorativo dos 250 anos da Igreja Matriz da Freguesia de São Jorge, Concelho de Santana. O espectáculo protagonizado pela Banda Municipal de Machico com recurso à multimédia, sustentou-se na história da Igreja Matriz desde a fundação daquela comunidade nortenha até à actualidade. Foi uma viagem que possibilitou a congregação da população no espaço público, junto ao adro da igreja, local que nas comunidades rurais ainda mantém vincada uma funções de socialização através da confaternização entre as pessoas.
O adro da Igreja Matriz de São Jorge, enquanto, espaço público e lugar de encontro e de celebração profana, exerceu do meu ponto de vista, um papel fundamental para que as pessoas que ali estavam se sentissem comunidade e conhecessem alguns episódios da história local profusamente enraizada com a da Matriz, património cultural e símbolo de identidade colectiva. Estou em crer que a Viagem Monumental despertou sentimentos de valorização do território, de orgulho na história de um povo que soube conviver com a natureza ao longo de centenas de anos, do reconhecimento da cultura local pelas gentes de São Jorge, paralelamente, ao fortalecimento e afirmação da identidade comunitária. Percebi o que é Ser Comunidade.
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