terça-feira, 6 de agosto de 2013

A animação sociocultural na encruzilhada da realidade sociopolítica (II)

É preocupante o encerramento abrupto dos cursos superiores de animação, considero um revés na afirmação social da profissão e na formação académica dos animadores. Esta medida origina diferentes sentimentos e leituras sobre o processo e contribui para alimentar a descrença coletiva de transformação social da realidade atual. Outra leitura, talvez reúna menos apoio, mas com maior fundamento à luz da realidade social, política e educativa do país, é o ajustamento da oferta formativa à procura por parte dos candidatos ao ensino superior. Não quero descurar a possibilidade de um ajustamento da procura às reais necessidades do mercado de trabalho.

Qual o número de animadores licenciados em Portugal? Porque não há uma uniformização dos planos de estudos das licenciaturas em animação sociocultural? Porquê as muitas nomenclaturas para designar os cursos de animação quando têm em comum a matriz axiológica? Estas são questões que devem servir de base para compreendermos o processo em marcha. Continuo a defender uma única nomenclatura em animação, com um plano de estudos comum e uma aposta inequívoca em áreas de especialização que sejam uma resposta aos paradigmas de desenvolvimento dos territórios e das comunidades.

A animação sociocultural não é panaceia para os males sociais e os animadores não são «bombeiros» de serviço para socorrer as instituições. É preciso balizar a profissão, é fundamental definir competências técnicas e sociais, mas acima de tudo é urgente fomentar uma plataforma de pressão que desperte nas instituições a necessidade das dinâmicas da animação no seio organizacional. A aproximação progressiva entre as organizações de ensino e o mercado laboral é um desafio permanente e, é por excelência uma porta aberta a um intercâmbio de experiências que possibilitam um real conhecimento do que é ser animador sociocultural.

Os animadores reivindicam espaços de intervenção e reclamam para o exercício da profissão a presença de agentes socioculturais em inúmeras organizações da administração pública e da sociedade civil. Este é um exercício de cidadania, um direito que lhes assiste e um propósito sério e digno de registo. Não considero que a animação sociocultural esteja moribunda, ela continua dinâmica, talvez a pujança dos animadores esteja orientada para labores exclusivamente individuais em detrimento do coletivo. Os novos movimentos sociais são expressão de dinâmicas de animação sociocultural, de força coletiva que irrompe do anonimato cidadão e conquista identidade de grupo impelindo para um novo paradigma de cidadania na era global.

Os contextos educativos e sociopolíticos alteraram-se e com eles, nós, cidadãos e animadores, somos forçados a nos reposicionar no mundo, a ler e reinterpretar a realidade, a mediar conflitos e implementar soluções à luz dos novos paradigmas. A animação sociocultural enquanto metodologia de intervenção comunitária e padrão estratégico de fomento da participação ativa dos indivíduos nos processos de mudança, encontra nos grupos e nas instituições os recursos endógenos ao desenvolvimento local sustentável.

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